TECNOLOGIA

Gamer que tomava 3 litros de refrigerante por dia desenvolve osteoporose aos 21 anos

“Todos os dias, eu tomava 3 litros de refrigerante e mais 1 litro de café, além de energéticos. Cheguei até a substituir a água para beber refrigerante. Eu precisava disso para me manter acordado e jogar durante 18 horas para me manter no top 1 global de Free Fire”, conta o gamer e streamer José Neto, de 21 anos, mais conhecido como Neto Silva.

O influenciador mineiro, que chegou a faturar mais de R$ 1 milhão apenas com o jogo, só não contava que tais adaptações na rotina influenciariam sua saúde e que ocasionariam um quadro incomum para a idade: a osteoporose.
De acordo com o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento, a osteoporose é um quadro clínico em que há a redução da densidade óssea, o que torna os ossos mais fracos e, portanto, mais suscetíveis a fraturas.

Neto explica que, antes de iniciar a carreira como gamer, praticava exercícios e sempre cuidava da saúde. Mas, com a mudança na rotina, trocou tais hábitos pelo sedentarismo, má alimentação e até mesmo falta de exposição à luz solar.

“Comecei a sentir muitas dores no corpo, não encontrava muito bem uma posição [confortável] pra dormir, sentia o osso doendo. Um dia, inventei de sair para correr e comecei a torcer os pés logo nos primeiros passos. Já sentia muita dor nas costelas antes de dormir, mas achava que era por conta da má postura, por ficar muitas horas sentado na cadeira. Mas, quando aconteceu isso, durante a corrida, fui para o hospital no mesmo dia”, relata.

A densitometria óssea [exame para avaliar a densidade dos ossos] constatou que o jovem estava com osteoporose primária do tipo 2, chamada também de osteoporose senil, que consiste na deficiência de cálcio. Neto, entretanto, não tinha histórico do problema em sua família.

A endocrinologista Vívian Simões, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que a ocorrência de osteoporose entre jovens é pequena, com poucos relatos na literatura médica, sendo de prevalência na pós-menopausa e entre idosos. Entretanto, para os jovens, seria mais comum encontrar casos de fragilidade óssea.

Tal quadro em pessoas mais novas seria normalmente associado a doenças de base, geralmente reumáticas, como o lúpus ou artrite reumatóide; distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia; doenças intestinais, como Crohn e DII (doença inflamatória intestinal); a tratamentos com corticoides; ou em pessoas com restrições alimentares, como vegetarianos ou veganos, o que interfere no consumo de cálcio. Essas situações estariam ligadas à perda de massa óssea ou má absorção de cálcio e vitamina D.

“Inicialmente, ficamos surpresos com um paciente com osteoporose nessa idade, pois não é o que esperamos de rotina. Mas, por conta do estilo de vida e seus hábitos, foi possível estabelecer uma ligação que levasse à osteoporose”, afirma o ortopedista Guilherme Chohfi de Miguel, médico responsável pelo diagnóstico e acompanhamento do gamer.

Influência dos hábitos

Ambos os especialistas afirmam que os hábitos têm influência direta na saúde óssea e que há elevação de risco quando não a alimentação não é saudável, com a falta de consumo de alimentos com cálcio, e a falta de exposição solar, o que diminui a absorção de vitamina D pelo organismo.

A falta de exercícios físicos também acaba influenciando na absorção de tais nutrientes, assim como no fortalecimento muscular para diminuir as chances de fraturas.

Chohfi explica que hábitos como os de seu paciente, onde há alta ingestão de bebidas ricas em cafeína, ocorre um aumento de excreção de cálcio na urina, dada a velocidade superior de absorção das bebidas quando comparada à de absorção do cálcio.

“A quantidade de cafeína consumida por dia deve ser de até 400 mg. Quando atingimos mais de 800 mg, já temos comprovação de que teremos malefícios ao corpo. Lembrando que nessa quantidade devemos contar o café, refrigerante (tipo cola), energéticos, pré-treinos ou qualquer outro produto que possa conter cafeína. Quando consumimos 100 ml de café coado, estamos consumindo cerca de 85 mg de cafeína; 250 ml de energético, entre 80 e 90 mg, 350 ml de refrigerante tipo cola são em torno de 35 mg de cafeína”, alerta o ortopedista.

A falta de atividade física, principalmente as de impacto, acaba diminuido o estímulo para a formação óssea, devendo o paciente sempre buscar a prática de atividade física como uma rotina, explica o especialista.

Quanto à falta de exposição solar, acaba ocorrendo a diminuição da conversão da vitamina D, que auxilia a absorção de cálcio pela alimentação e também na qualidade óssea.

Já o sono adequado é responsável por estimular o restabelecimento das funções, assim como no auxílio da produção de hormônios que estimulam o crescimento.

Em virtude dos atuais hábitos alimentares e do aumento das taxas de sedentarismo, o médico expressa preocupação de que, eventualmente, sejam registrados mais casos de osteoporose em idades cada vez mais jovens.

Prognóstico

A partir do diagnóstico, Chohfi alega que é necessário corrigir os fatores de risco capazes de modificação, com mudanças na dieta e acompanhamento nutricional adequado, inserção de atividades físicas no rotina, e calcular os riscos de fratura. Esse cálculo é fundamental para definir qual a melhor opção terapêutica e escolha da medicação a ser utilizada.

A adoção de hábitos saudáveis deve ocorrer desde a infância, época em que há a produção da densidade óssea, atingindo maior concentração logo após os 20 anos de idade.

Além disso, o médico orienta que não se fume e nem se consumam bebidas alcoólicas em excesso.

Neto afirma que, após o diagnóstico, iniciou o tratamento medicamentoso, repondo cálcio e vitamina D. Ele ainda notou melhora clínica após iniciar uma rotina de atividades físicas, adoção de alimentação saudável e melhora na qualidade de sono.

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